EMBU DAS ARTES-DO VERDE AO CINZA

O presente artigo acadêmico é fruto de pesquisas e entrevistas realizadas em abril de 2017, pelas estudantes do terceiro ano de jornalismo da Faculdades Integradas Alcântara Machado – FIAM, Beatriz Siqueira e Rafaela Coriliano.

Embu das Artes: do verde ao cinza

A cidade, antes conhecida como “Capital da Ecologia”, tem sua área verde ameaçada

Por: Beatriz Siqueira e Rafaela Coriliano

Embu das Artes é uma cidade famosa pelas artes que produz e por sua Feira de Arte e Artesanato, que ocorre na região central, onde características históricas preservadas atraem turistas de todos os lugares.

Ficou também conhecida como “Capital da Ecologia”, por sua batalha pela preservação da natureza, com a realização do Primeiro Simpósio Ecológico no Brasil, em 1971, quando reuniu renomados especialistas em fauna, flora e recursos hídricos para refletir sobre os problemas ambientais, sobre a proteção e as dificuldades previstas e enfrentadas por governo e ambientalistas.

Apesar dos esforços, na urbanização desordenada ocorrida especialmente nas décadas de 70, 80 e 90, a falta de infraestrutura colaborou para um aumento significativo da poluição na cidade.

Em 70 km², o município possui hoje cerca de 260 mil habitantes, distribuídos desproporcionalmente. Cerca de 80% dos cidadãos se concentram na zona leste, região que dá continuidade à cinzenta mancha urbana de São Paulo.

Ainda hoje, esgotos são despejados nos rios e é possível observar as transformações na paisagem, causadas por enormes áreas desmatadas e despejo irregular de lixo nas ruas e terrenos.

O cenário entristece e impressiona os cidadãos, como revela a moradora Daniela Siqueira, 38 anos: “das mudanças ocorridas na cidade, o desmatamento é o que mais assusta, pela quantidade de imóveis construídos em áreas verdes. Já sobre o lixo, existe a coleta seletiva em alguns pontos, mas pouca aderência. Falta conscientizar a população para a importância da reciclagem”, comenta a moradora.

Celia Rodrigues Andrade, analista de sistemas, mora na cidade há 41 anos e expressa sua preocupação com o futuro do meio ambiente para a vida das pessoas: “é preciso preservar para garantir os recursos naturais para as próximas gerações. Temos estrutura para praticar ações, mas é preciso conscientizar a população”, desabafa.

POLUIÇÃO

Devido ao atual parcelamento urbano, Embu tem áreas com maior e menor concentração de poluição. A zona oeste conta com a Área de Proteção Ambiental (APA) Embu Verde, onde 15 km² de extensão abrigam espécies nativas de Mata Atlântica e a diferença do ar é sentida no clima ameno de toda a região oeste e central.

Já na região leste, que faz divisa com São Paulo, a concentração de poluição é maior. “Com poucas áreas verdes, a região também é afetada pelo ar mais poluído que recebe de São Paulo”, comenta Rodolfo Almeida, 34, presidente da ONG Sociedade Ecológica Amigos de Embu (SEAE).

A poluição hídrica em Embu das Artes apresenta problemas sérios, causados pela falta de tratamento de esgoto ou reaproveitamento de água, além dos resíduos jogados diretamente nos rios.

Um exemplo é o rio Embu-Mirim, responsável por 33% de toda a água da Represa Guarapiranga. Sua água está altamente poluída por esgoto residencial e por esgoto industrial: “o cidadão é cobrado na conta de água por coleta e tratamento da Sabesp, mas ela somente leva o esgoto da sua casa até o rio mais próximo e despeja lá, sem tratamento, sem proteção, e causa um mal terrível para natureza e para todo abastecimento da região metropolitana”, comenta Rodolfo.

EDUCAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO

Para Rodolfo Almeida, a falta do convívio com o ambiente natural é a causa da falta de consciência ambiental: “muitas pessoas nasceram e cresceram sem nunca ter convivido com um rio limpo em que pudesse nadar, conviver com uma área verde em que pudesse colher uma fruta do pé ou sentir o sabor de uma verdura colhida na hora. Quem nasceu e cresceu longe disso não aprendeu a preservar essas coisas, pois é preciso conhecer para se preservar”.

O ambientalista afirma, ainda, que o desenvolvimento é outro empecilho para a conscientização: “viemos de uma cultura que nos ensina que o desenvolvimento é estrada e floresta é um obstáculo, sem pensar que precisamos preservar a natureza para ter um ar puro e água saudável para a nossa sobrevivência”.

Para reforçar a conscientização ambiental, Daniela Siqueira sugere como ideal a divulgação do tema em mídias e campanhas educativas que tornem o meio ambiente e a reciclagem parte do cotidiano do cidadão.

Celia Rodrigues diz que a conscientização deve começar nas escolas, desde o ensino infantil para as crianças já crescerem com a consciência de ajudar o meio ambiente.

Ambas as moradoras separam o lixo em suas residências. “Eu separo o lixo reciclável, porém o pessoal que coleta demora muito para pegar. Fazendo a separação, eu ajudo moradores da minha região que vivem coletando lixo reciclável para sustentar suas casas e alimentar seus filhos”, afirma Celia.

Em suas ações ambientais, a SEAE promove palestras com especialistas sobre Saneamento Ecológico, Conservação de Fauna e Flora, Análise da qualidade da água, oficinas de horta vertical, bombas de semente, jogos educativos, ações de plantio, entre outros.

Questionado sobre os motivos de a ONG ter pouca visibilidade na cidade, Rodolfo informou que a ONG atua de forma autônoma, sem vinculação político-partidária e conta somente com voluntários para realizar suas atividades.

Conta ainda que o posicionamento já trouxe problemas com o poder público, que tentou denegrir a imagem da associação, com boatos de que os ambientalistas são contra moradia e emprego:

“É lógico que em todos os seguimentos existem setores radicais, mas não é o caso da maioria da área ambiental. Na Sociedade Ecológica Amigos de Embu, ajudamos, damos soluções para que todos tenham uma moradia digna, com conforto, boa qualidade do ar e área verde, com acesso a água limpa ambiente equilibrado”.